Em um dos trechos mais bonitos do litoral, a rodovia Rio-Santos liga dois destinos ricos em biodiversidade e valor histórico.
Para quem mora no estado de São Paulo, o nome Ubatuba pode soar familiar, afinal basta conhecer um pouco da geografia do estado para saber de sua existência no mapa. Agora, para quem é de outro estado, o nome pode não ser tão conhecido assim. Aos que conhecem o nome e nunca foram e aos que nunca ouviram falar, conhecer esse pedaço do litoral norte de São Paulo pode ser, como dizem, uma grata surpresa. E o roteiro sobre rodas desta edição não se limita ao trajeto de 260 Km que liga a capital paulista até Ubatuba. Queremos mais! Uma esticada até Paraty, no litoral sul do Rio de Janeiro. Um percurso que pode até parecer curto, pois são 72 Km que separam as praias paulistas das fluminenses, mas, que, na verdade, neste caso, a distância pouco importa, o que conta são as centenas de praias concentrada em tão pouco espaço.
E de espaço geográfico, a região é bastante privilegiada não só por agregar uma grande biodiversidade e lugares paradisíacos, mas também por estar bem no traço da linha imaginária do Trópico de Capricórnio, que coloca a cidade no lugar em que o Sol atinge seu ponto mais alto em dois dias do ano, no início do solstício de verão e de inverno. Em Ubatuba, a famosa expressão “sol a pino” é literal em termos astronômicos e não um mero recurso de linguagem para ressaltar que está muito calor. Para marcar o ponto, há a Praça Trópico de Capricórnio, que fica de frente para o mar da praia do Itaguá, na região central, e dispõe de pista de skate e ciclovia para passeios nos fins de tarde. Lá também estão concentradas outras atrações, como o Aquário de Ubatuba, que dá uma mostra da biodiversidade marinha e tem papel fundamental na educação ambiental, e o Projeto Tamar, dedicado às tartarugas marinhas. As outras praias da cidade também passam por essa divisão imaginária e estão separadas em ‘acima’ e ‘abaixo’ do trópico.
Na parte debaixo, as praias do Sul, que são muitas, estão representadas pela Praia Grande, a mais balada e com melhor infraestrutura de serviços e comércio, que tem boa pedida durante o dia e também à noite. Próxima dela está a das Toninhas, que é indicada para esportes náuticos, e a do Tenório, que é recomendada para ir com crianças. Outros destaques do Sul são a do Lázaro, que tem ondas tranquilas e é ótima para praticar stand up paddle e remar de caiaque, a da Enseada, que é bastante frequentada por famílias, e a Maranduba, que é quase na divisa com Caraguatatuba e tem as trilhas como principal atrativo da região.
Ao Norte estão as praias mais selvagens, que podem apresentar uma dificuldade maior em seu acesso. A mais famosa por ser point de surf é a Itamambuca, que sedia vários campeonatos durante o ano e conta também com uma escola do esporte para quem quiser se arriscar. Apesar de o acesso ser por meio de um condomínio bacana, não espere uma superestrutura de quiosques e serviços, a estrutura é rústica, mas a paisagem é demais e fica completa com o rio de mesmo nome presente no local. Logo por ali também está a Cachoeira do Prumirim, que forma quase um ‘complexo’ junto à praia e ilha de mesmo nome. Outra praia boa para surfar é a Vermelha do Norte. Para descansar e contemplar, destacam-se a Almada, Ubatumirim e a do Félix.
Diante de tantas opções de praias e lugares interessantes, fica até difícil fazer um recorte sobre o que recomendar. É uma questão de gosto, de saber se prefere o agito ou a calmaria. Para quem opta pela calma e a natureza, o Núcleo Picinguaba, que faz parte do Parque Estadual da Serra do Mar, é um recanto de mata nativa que oferece diversas atividades de ecoturismo em uma área de 47 mil hectares. Na região está localizada a Ilha das Couves, composta de duas praias desertas e de águas transparentes, cujo acesso é feito de barco a partir da praia de Picinguaba. Se decidir passar o dia lá, é importante levar água e algum lanche.
A Ilha é a última parada de Ubatuba até seguir sentido Paraty pela BR-101, que é um outro nome para a continuação da rodovia Rio-Santos, considerada uma das mais bonitas do país por acompanhar as áreas de Mata Atlântica. Em Paraty, o centro histórico é um convite para o retorno ao século 18 e 19 com seus casarões bem conservados e suas vielas de pedra, que reúne ateliês, lojinhas, bares e restaurantes. As igrejas são um dos principais pontos de visitação e é onde tudo começou, mais precisamente em torno da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, onde a cidade foi fundada, em 1667. Sua história está ligada à produção açucareira e é por isso que até hoje a cachaça é um símbolo do lugar, com direto a um festival anual, realizado em agosto. Valem as visitas aos alambiques, como o Engenho D´Ouro e o Maria Izabel.
Mas em Paraty não é só história, tem várias praias também. As mais próximas do centro são a do Pontal e a do Jabaquara. Os passeios de barco, porém, levam às praias inacessíveis por via terrestre, como a Vermelha e da Lula, e as mais distantes e desertas como o Saco do Mamanguá. Mais praias, ilhas e cachoeiras compõem as atrações naturais, além da Vila de Trindade a 25 km, que concentra as melhores praias, como a dos Ranchos, a do Meio e a do Cachadaço, que reserva uma piscina natural acessível por meio de uma trilha de cerca de 20 minutos. A vila, que atrai principalmente os mais jovens, conta com boas opções para alimentação. E isso é só uma mostra do que pode ser feito no eixo Ubatuba-Paraty. Separe suas sete diárias para desbravar este roteiro de carro, indo de praia em praia, de acordo com seu ritmo e interesse.
Texto Publicado na Revista Férias&Lazer – Ed. 57